De acordo com o estudo PEN-3S, realizado em Portugal, 4,8% dos idosos em residências sénior estão malnutridos e 38,7% estão em risco de malnutrição.1 Dado que o estado nutricional é um determinante chave para a saúde dos idosos, impactando a qualidade de vida e autonomia dos mesmos, torna-se urgente intervir e promover um bom estado nutricional nesta população específica.2
Dados do último Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016) reportam que cerca de metade dos idosos fazem uma ingestão proteica insuficiente (inferior a 1 g de proteína por kg de peso por dia) e que são o grupo etário com menor frequência de consumo das refeições intermédias.3 Estes factos contrastam com as necessidades energéticas e proteicas aumentadas desta população, que são superiores àquelas preconizadas para o adulto saudável.4
As causas da malnutrição no idoso podem ser multifatoriais, com base em fatores psicossociais, fisiológicos e/ou clínicos. A falta de apetite, falta de dentição, dificuldades na deglutição (disfagia), alterações no paladar e olfato, polimedicação, demência, dor crónica e depressão são apenas alguns exemplos. Estes fatores podem originar perdas de peso involuntárias, que resultam na perda de massa muscular e estados de fragilidade,acarretando consequências como a perda de força muscular, aumento do risco de quedas, aumento do risco de infeções, perda da autonomia, diminuição da qualidade de vida e aumento da mortalidade.5,6,7
O estado de fragilidade carateriza-se por um quadro de diminuição da força, resistência e função muscular. Existem sinais de alerta no idoso, aos quais importa estar atento: perda de peso involuntária, fadiga, dificuldades em realizar tarefas do dia-a-dia e dificuldades a caminhar. Para detetar oscilações de peso, é importante que haja uma monitorização regular do peso do idoso (pelo menos 1 vez por mês).6,8,9 A identificação do risco nutricional deve ser realizada periodicamente nestes idosos, de modo a que aqueles em risco possam ser encaminhados para uma intervenção nutricional.4
Um estilo de vida saudável e ativo são fundamentais para prevenir a perda de peso involuntária e a fragilidade. A prática de exercício físico, devidamente adaptada às capacidades do idoso, deve ser incentivada. A alimentação deve ser completa, variada e equilibrada, permitindo atingir as necessidades nutricionais diárias do idoso.6,8,9 No caso específico das residências sénior, torna-se assim fundamental formar uma equipa consciente das dificuldades individuais de cada idoso, principalmente na hora da refeição, adequando as porções e texturas dos alimentos.4
Sempre que a alimentação habitual não seja suficiente para atingir as necessidades nutricionais do idoso, deve ser procurado acompanhamento nutricional, onde o profissional de saúde poderá indicar a toma de um suplemento nutricional oral (SNO). Os SNO são alimentos para fins medicinais específicos para a gestão nutricional da malnutrição associada a doença, para utilização por via oral, que promovem a ingestão de proteína e energia e ajudam no aumento de peso e massa magra, e consequentemente na melhoria da qualidade de vida e independência. Devem ser tomados, sempre, sob supervisão médica do profissional de saúde.10-15
Os SNO estão disponíveis em vários formatos – líquidos, em creme ou em pó, de modo a adequar às preferências individuais de cada um. Recomenda-se não só variar no formato, mas também nos sabores e modo de preparação – por exemplo, incorporar em batidos ou papas. A toma deve ser iniciada de forma gradual, até que se obtenha a dose recomendada, ao fim de 3 a 5 dias. Não devem substituir as refeições habituais, mas sim complementá-las, sendo introduzidos nas refeições intermédias. O produto deve ser agitado antes de abrir e, após a abertura, colocado no frigorifico e consumido em 24 horas.
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