A Incontinência Urinária é um problema que afeta cerca de 20% da população portuguesa do sexo feminino com mais de 40 anos, mas apenas 10% destas pessoas procuram ajuda médica especializada.
Falar sobre este problema na Semana Mundial da Continência é fundamental para relembrar a importância do diagnóstico precoce desta situação, das diferentes hipóteses de tratamento existentes de acordo com o diagnóstico estabelecido, bem como da elevada possibilidade de taxa de cura.
O que é a incontinência urinária?
A Incontinência Urinária define-se como a perda involuntária de urina pela uretra, podendo ser desde ligeira e ocasional a perdas mais graves e regulares. Pode ocorrer em ambos os sexos e em idades diferentes, embora a prevalência seja maior no sexo feminino e em idades mais avançadas.
É um problema sério que tem habitualmente um impacto profundo na qualidade de vida pessoal, social, familiar e profissional dos doentes, muitas vezes com repercussões emocionais significativas.
A prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para um melhor prognóstico na evolução da doença.
Quais são as causas?
São causas multifatoriais, podendo haver fatores de risco predisponentes para o seu aparecimento como a idade, o sexo (mais frequente no sexo feminino), a menopausa, número de partos vaginais, obesidade, obstipação crónica, cirurgias ginecológicas ou pélvicas, doenças neurológicas, hábitos alimentares, ingestão excessiva de líquidos, ingestão de álcool, cafeína/teofilina e hábitos miccionais, entre outros.
Como se trata e como se previne?
A reabilitação do pavimento pélvico tem um papel importante na prevenção do aparecimento da incontinência urinária, por exemplo, em situações de pós-parto, promovendo a identificação da contração dos músculos do pavimento pélvico, de forma a devolver-lhes a sua função através de exercícios e outras técnicas que restabelecem a força de contração e tonicidade dos tecidos, diminuindo as queixas urinárias.
Os exercícios de Kegell são direcionados para a musculatura do pavimento pélvico, realizam a sua contração voluntária, o que vai promover o fecho uretral, favorecendo a continência através do fortalecimento da musculatura perineal.
Estes exercícios têm como objetivo melhorar a resistência uretral e o tónus dos tecidos de suporte dos órgãos pélvicos, garantindo o seu correto posicionamento.
São exercícios simples, não invasivos, que devem ser repetidos várias vezes por dia, de forma autónoma pelos doentes em qualquer local após a sua correta aprendizagem.
A sua eficácia está dependente da adesão aos exercícios e da motivação para a sua manutenção a longo prazo.
Podem complementar-se os exercícios de Kegell com outras técnicas:
A Electroestimulação tem como objetivo estimular o desenvolvimento e a tonicidade dos músculos do pavimento pélvico, melhorando a sua capacidade de contração.
É recomendada em doentes que não conseguem identificar facilmente a contração dos músculos do pavimento pélvico ou que apresentam uma grande diminuição da força deste grupo de músculos, melhorando assim o mecanismo da sua contração.
O Biofeedback é também um importante apoio terapêutico em todas as formas de IU. Utiliza elétrodos capazes de captar a contração muscular dos músculos do pavimento pélvico e transforma-os em estímulos visuais ou auditivos, permitindo aos doentes que têm dificuldade em compreender como contrair os seus músculos aprender a fazê-lo corretamente, evitando o recrutamento de músculos acessórios.
Diferentes tipos de incontinência, diferentes tratamentos
Existem vários tipos de Incontinência Urinária conforme o motivo ou a forma como se desencadeiam as perdas, sendo fundamental um diagnóstico correto para definir qual o melhor tipo de tratamento para cada uma delas. Genericamente, existem três tipos principais:
• Esforço – Perda involuntária de urina após a realização de um esforço (tosse, espirro, riso, peso, exercício)
• Urgência – A perda de urina é precedida de uma vontade repentina e intensa de urinar, não associada a nenhum esforço, nem sempre permitindo ao doente chegar atempadamente ao WC.
• Mista – Associação dos sintomas da incontinência urinária de esforço e de urgência.
Existem ainda outros tipos de Incontinência Urinária diferentes:
• por extravasamento – Acontece quando a bexiga contém grandes volumes de urina e a pressão do líquido é tão elevada que ultrapassa a resistência da uretra.
• funcional – Quando o doente não consegue chegar atempadamente ao WC (mais frequente nos doentes idosos, neurológicos, etc)
• Enurese – Perda involuntária de urina durante o sono.
O tratamento selecionado vai depender do tipo de incontinência.
Na Incontinência Urinária de esforço ligeira/moderada, a reeducação do pavimento pélvico é habitualmente a primeira opção de tratamento, enquanto que na de Urgência e Mista, a reeducação do pavimento pélvico é habitualmente associada a tratamento farmacológico.
Nas situações mais graves que não respondem ao tratamento conservador, a indicação é frequentemente cirúrgica.
Não podemos esquecer que a par destas opções de tratamento, são essenciais também as alterações de várias medidas comportamentais e de estilo de vida (perda de peso, alterações dietéticas, hábitos miccionais).
Porque é tão importante procurar ajuda diferenciada?
Uma avaliação por parte de especialistas especializados, sensibilizados e focados para uma abordagem multidisciplinar, permite uma mais correta orientação do doente, desde o diagnóstico ao tratamento com o objetivo de devolver qualidade de vida.
É igualmente importante desconstruir mitos! Por receio ou vergonha, a incontinência urinária é ainda um tema com o qual as pessoas tendem a conviver sem procurar ajuda profissional. A ideia de que é uma consequência normal do envelhecimento sem possibilidade de tratamento é errada. O seu médico pode ajudá-lo a melhorar os seus sintomas e a encontrar o tratamento adequado.
Um artigo da médica Teresa Soares da Costa, Coordenadora de Medicina Física e de Reabilitação no Instituto CUF Porto e Hospital CUF Porto.