O envelhecimento é um processo natural que traz consigo uma série de alterações fisiológicas e funcionais. Entre as mais relevantes encontra-se a sarcopenia, uma condição caracterizada pela perda progressiva de massa muscular, força e desempenho físico. Esta síndrome, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença (CID-10: M62.84), tem um impacto significativo na autonomia, mobilidade e qualidade de vida das pessoas idosas.
A sarcopenia não é apenas uma consequência inevitável do envelhecimento, mas resulta também da interação entre fatores biológicos, comportamentais e ambientais. O estilo de vida sedentário, a alimentação inadequada, as doenças crónicas e a inflamação sistémica desempenham papéis determinantes no seu desenvolvimento. A sua progressão pode conduzir a quedas, fraturas, incapacidade funcional e aumento da mortalidade.
Compreender os sintomas precoces e conhecer as estratégias de prevenção e tratamento é fundamental para promover uma vida ativa e saudável na população idosa.
O que é a Sarcopenia?
O termo sarcopenia deriva das palavras gregas sarx (carne) e penia (perda), significando literalmente “perda de músculo”. Trata-se de uma síndrome multifatorial que afeta a massa muscular esquelética, a força e a performance física. A sua origem é complexa, envolvendo alterações hormonais, inflamação crónica de baixo grau, resistência à insulina, défices nutricionais e redução da atividade física.
Segundo o European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP2), o diagnóstico de sarcopenia baseia-se em três critérios principais:
- Força muscular reduzida – principal indicador de suspeita.
- Massa muscular diminuída – confirmando o diagnóstico.
- Desempenho físico limitado – indicador de sarcopenia grave.
A prevalência da sarcopenia aumenta com a idade, afetando entre 10% a 20% dos idosos com mais de 65 anos e podendo ultrapassar 50% em pessoas com mais de 80 anos, dependendo do contexto clínico e dos critérios utilizados.

Causas e Fatores de Risco
A sarcopenia resulta de uma combinação de fatores intrínsecos (fisiológicos) e extrínsecos (ambientais). Entre os principais destacam-se:
1. Alterações hormonais
Com o envelhecimento, há uma redução das hormonas anabólicas, como a testosterona, o estrogénio, o hormónio do crescimento (GH) e o IGF-1, que são fundamentais para a manutenção e regeneração muscular.
2. Inatividade física
O sedentarismo é um dos fatores de risco mais importantes. A ausência de estímulo muscular leva à atrofia das fibras musculares, principalmente das fibras tipo II (responsáveis pela força explosiva e pelo equilíbrio).
3. Alimentação inadequada
A ingestão insuficiente de proteínas, calorias e micronutrientes (como vitamina D e cálcio) compromete a síntese proteica e acelera a perda de massa muscular.
4. Inflamação crónica
As doenças crónicas associadas ao envelhecimento — como diabetes, insuficiência cardíaca, artrite reumatoide e doença pulmonar obstrutiva crónica — promovem uma inflamação persistente que interfere no metabolismo muscular.
5. Doenças neurológicas e imobilidade
Doenças como o AVC ou a doença de Parkinson provocam desuso muscular prolongado, agravando o quadro de sarcopenia.
Sintomas e Sinais de Alerta
A sarcopenia instala-se de forma gradual e muitas vezes silenciosa. Os sintomas iniciais podem passar despercebidos, sendo frequentemente atribuídos “à idade”. Contudo, reconhecer precocemente os sinais de alerta é crucial para uma intervenção eficaz.
Principais sintomas incluem:
- Perda de força muscular – dificuldade em levantar objetos, abrir frascos ou subir escadas.
- Diminuição da massa muscular – braços e pernas mais finos, sensação de fraqueza geral.
- Desaceleração dos movimentos – andar mais lento e menor coordenação.
- Cansaço excessivo – fadiga ao realizar atividades diárias simples.
- Instabilidade postural e quedas – consequência da perda de equilíbrio e reflexos.
- Redução da autonomia funcional – dificuldade em vestir-se, tomar banho ou deslocar-se.
O impacto emocional também é relevante: a perda de força e independência pode levar à diminuição da autoestima, isolamento social e depressão.
Diagnóstico da Sarcopenia
O diagnóstico deve ser multidimensional, englobando avaliação clínica, funcional e corporal. O profissional de saúde, geralmente o médico de família, geriatra ou fisiatra, pode recorrer a diferentes métodos:
- Avaliação da força muscular – o teste mais comum é o handgrip (força de preensão manual), utilizando um dinamómetro.
- Análise da massa muscular – através de DXA (absorciometria de dupla energia), bioimpedância elétrica ou ressonância magnética.
- Avaliação do desempenho físico – testes de velocidade da marcha, Timed Up and Go (TUG) ou teste de sentar-levantar.
- Questionários funcionais – que avaliam o impacto da fraqueza na vida diária.
O diagnóstico precoce é fundamental para evitar a progressão da doença e prevenir complicações como quedas e fraturas.

Tratamentos Essenciais para uma Vida Ativa
O tratamento da sarcopenia é multidisciplinar e visa restaurar a força, a massa muscular e a funcionalidade, garantindo uma vida mais independente e ativa. As principais estratégias incluem:
1. Exercício Físico Regular
O exercício é o pilar mais eficaz no tratamento e prevenção da sarcopenia. As evidências científicas mostram que o treino de resistência (musculação) e o treino funcional são as formas mais eficazes de estimular a síntese proteica e a regeneração muscular.
- Treino de força: 2 a 3 vezes por semana, com pesos ou elásticos, focando grandes grupos musculares (pernas, braços, tronco).
- Treino de equilíbrio e coordenação: reduz o risco de quedas e melhora a estabilidade postural.
- Atividades aeróbicas moderadas: como caminhada, natação ou ciclismo, complementam a resistência muscular e a saúde cardiovascular.
A supervisão de um fisioterapeuta ou profissional de exercício físico especializado em geriatria é essencial para adaptar o programa às limitações individuais.
2. Alimentação Adequada
A nutrição tem um papel determinante na prevenção e recuperação da sarcopenia. O objetivo é fornecer energia e proteínas suficientes para manter a massa magra e promover a síntese muscular.
- Proteínas: recomenda-se uma ingestão diária de 1,0 a 1,5 g/kg de peso corporal, distribuída ao longo do dia. Fontes de qualidade incluem peixe, carne magra, ovos, leguminosas e laticínios.
- Vitamina D: essencial para a função muscular e óssea. A exposição solar moderada e a suplementação (quando indicada) ajudam a manter níveis adequados.
- Ácidos gordos ómega-3: presentes no peixe gordo, têm propriedades anti-inflamatórias que beneficiam o tecido muscular.
- Hidratação: a desidratação agrava a fadiga e a fraqueza, sendo crucial manter uma ingestão regular de líquidos.
Em casos de desnutrição ou apetite reduzido, pode ser necessário o uso de suplementos nutricionais sob orientação de um nutricionista.
3. Suplementação e Terapia Farmacológica
Embora o tratamento da sarcopenia deva centrar-se na atividade física e na nutrição, alguns suplementos podem auxiliar o processo:
- Creatina monohidratada – melhora o desempenho muscular e aumenta a força em idosos ativos.
- Leucina e HMB (β-hidroxi-β-metilbutirato) – estimulam a síntese proteica.
- Vitamina D e cálcio – mantêm a saúde óssea e muscular.
A terapia hormonal (como testosterona ou GH) é reservada apenas para casos clínicos específicos e deve ser cuidadosamente monitorizada.
4. Intervenções Multidisciplinares
O tratamento ideal envolve a colaboração entre médico, fisioterapeuta, nutricionista, terapeuta ocupacional e psicólogo. Este trabalho conjunto permite uma abordagem personalizada que abrange não só os aspetos físicos, mas também os psicológicos e sociais, promovendo um envelhecimento mais ativo e participativo.
Prevenção: O Caminho para Envelhecer com Vitalidade
A sarcopenia pode ser prevenida através de hábitos saudáveis desde a meia-idade. Algumas medidas fundamentais incluem:
- Manter uma rotina regular de atividade física, incluindo força e equilíbrio;
- Adotar uma dieta equilibrada e rica em proteínas;
- Evitar o consumo excessivo de álcool e tabaco;
- Controlar doenças crónicas e manter um peso saudável;
- Garantir exposição solar moderada para produção de vitamina D;
- Estimular o convívio social e mental, pois a motivação influencia diretamente a adesão ao tratamento.
A sarcopenia é uma condição silenciosa, mas com consequências profundas para a saúde e a autonomia do idoso. A perda de força e massa muscular não deve ser encarada como um simples sinal da idade, mas como um alerta clínico para a necessidade de intervenção precoce.
Com exercício físico estruturado, nutrição adequada e acompanhamento multidisciplinar, é possível reverter ou atenuar os efeitos da sarcopenia, permitindo ao idoso manter-se ativo, independente e com melhor qualidade de vida.
Envelhecer com saúde é mais do que viver muitos anos — é viver com movimento, energia e propósito. E a luta contra a sarcopenia é, sem dúvida, um dos caminhos mais eficazes para atingir esse objetivo.
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