A polimedicação (ou polifarmácia) é um fenómeno crescente entre a população idosa, resultante da coexistência de várias doenças crónicas que requerem tratamento medicamentoso. Este termo refere-se à utilização simultânea de cinco ou mais medicamentos por uma pessoa, e é particularmente comum entre os idosos, uma vez que, à medida que envelhecemos, a probabilidade de desenvolver condições de saúde múltiplas aumenta consideravelmente.
Embora o tratamento de diversas patologias com múltiplos medicamentos seja, por vezes, essencial para garantir a qualidade de vida, a polimedicação acarreta também riscos significativos, como reações adversas, interações medicamentosas e complicações na gestão dos tratamentos. Neste artigo, analisamos a polimedicação em idosos, os riscos associados, os benefícios quando bem gerida, e as melhores práticas para minimizar complicações.
O Contexto da Polimedicação em Idosos
Com o aumento da esperança média de vida, mais pessoas chegam à terceira idade com doenças crónicas, como hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, osteoporose, entre outras. Muitas dessas condições requerem tratamento contínuo, muitas vezes com mais de um medicamento. Para além disso, os idosos tendem a visitar diferentes especialistas para várias doenças, resultando na prescrição de medicamentos por múltiplos médicos.
Segundo dados de Portugal e de outros países europeus, cerca de 50% dos idosos tomam cinco ou mais medicamentos diferentes diariamente. Esta elevada taxa de polimedicação torna-se uma questão central em termos de saúde pública, exigindo maior atenção dos profissionais de saúde e dos cuidadores, para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos.
Riscos da Polimedicação em Idosos
A utilização simultânea de vários medicamentos não está isenta de perigos. À medida que o número de medicamentos aumenta, também cresce a complexidade da gestão desses fármacos, o que pode aumentar os riscos de efeitos adversos graves. Entre os principais riscos da polimedicação, destacam-se:
1. Interações Medicamentosas
As interações medicamentosas ocorrem quando dois ou mais medicamentos tomados em simultâneo interagem de forma a alterar a sua eficácia ou a aumentar o risco de efeitos adversos. Este é um dos maiores perigos da polimedicação, pois nem sempre as interações são previsíveis, e o resultado pode variar entre uma diminuição da eficácia do tratamento e reações adversas potencialmente perigosas.
Por exemplo, alguns medicamentos para a hipertensão podem interagir com medicamentos anti-inflamatórios, reduzindo a eficácia do controlo da pressão arterial. Da mesma forma, a combinação de medicamentos para a diabetes com outros que afetam o metabolismo do fígado pode levar a níveis inadequados de açúcar no sangue.
2. Reações Adversas aos Medicamentos
À medida que a quantidade de medicamentos aumenta, também cresce o risco de reações adversas, que podem ser ligeiras ou graves. A sensibilidade aos medicamentos aumenta com a idade devido a alterações na forma como o organismo processa os fármacos, como a diminuição da função renal e hepática. Isto significa que os idosos são mais vulneráveis a efeitos secundários, como tonturas, quedas, desmaios, sonolência, e até reações alérgicas graves.
Estudos indicam que uma percentagem considerável das hospitalizações em idosos se deve a reações adversas aos medicamentos, muitas vezes ligadas ao uso de vários fármacos em simultâneo.
3. Comprometimento Cognitivo e Confusão
A utilização de medicamentos que afetam o sistema nervoso central, como antidepressivos, ansiolíticos e analgésicos opioides, pode levar a um aumento do risco de comprometimento cognitivo em idosos. Isto é particularmente perigoso quando combinado com outros medicamentos que também podem ter efeitos sedativos, levando a confusão mental, perda de memória e dificuldade em realizar atividades diárias.
4. Maior Risco de Quedas
Muitos medicamentos utilizados por idosos podem causar efeitos secundários como tonturas, sonolência ou fraqueza muscular, aumentando o risco de quedas. Medicamentos como anti-hipertensores, diuréticos, sedativos e antidepressivos são conhecidos por aumentar este risco, especialmente quando combinados. Quedas em idosos podem ter consequências graves, incluindo fraturas, perda de mobilidade e complicações de saúde subsequentes.
5. Adesão ao Tratamento e Erros na Medicação
A polimedicação pode dificultar a adesão ao tratamento. Com vários medicamentos para tomar em diferentes horários, há maior probabilidade de erros, como esquecer-se de tomar um comprimido ou tomar uma dose errada. Estes erros podem comprometer a eficácia do tratamento e aumentar o risco de complicações graves.
Benefícios da Polimedicação em Idosos
Embora a polimedicação esteja associada a diversos riscos, em muitos casos, ela é necessária para garantir a qualidade de vida e o tratamento adequado das múltiplas condições de saúde que afetam os idosos. Quando bem gerida, a polimedicação pode trazer benefícios significativos, tais como:
1. Tratamento Eficaz de Múltiplas Condições Crónicas
Muitos idosos vivem com várias condições crónicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas, que requerem tratamento diário. A polimedicação permite tratar estas doenças de forma simultânea, reduzindo o risco de complicações graves, como ataques cardíacos, AVCs e insuficiência renal. Sem a utilização de vários medicamentos, muitas destas condições poderiam evoluir de forma incontrolada, comprometendo a qualidade de vida.
2. Prevenção de Doenças
Em alguns casos, a polimedicação é necessária não apenas para tratar doenças existentes, mas também para prevenir o desenvolvimento de outras condições. Por exemplo, a combinação de medicamentos para o colesterol, a pressão arterial e a diabetes pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em pacientes de alto risco.
3. Melhoria da Qualidade de Vida
Quando bem planeada, a polimedicação pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos idosos. Medicamentos adequados podem controlar eficazmente a dor, melhorar a mobilidade, estabilizar o humor e ajudar no controlo de doenças crónicas, permitindo aos idosos manterem-se ativos e independentes durante mais tempo.
Como Minimizar os Riscos da Polimedicação em Idosos
Apesar dos benefícios, é crucial gerir adequadamente a polimedicação em idosos para minimizar os riscos. Algumas estratégias que podem ser adotadas incluem:
1. Revisão Regular da Medicação
A revisão periódica dos medicamentos prescritos por parte dos profissionais de saúde é essencial para garantir que o regime medicamentoso continua a ser necessário e eficaz. Nestas revisões, os médicos podem avaliar a necessidade de cada medicamento, ajustar doses ou descontinuar fármacos que já não são necessários.
2. Simplificação da Terapêutica
Sempre que possível, os profissionais de saúde devem tentar simplificar o regime de medicação, utilizando combinações de fármacos que permitam tratar várias condições com menos comprimidos, ou ajustando os horários de forma a facilitar a adesão ao tratamento.
3. Educação do Idoso e dos Cuidadores
É importante educar os idosos e os seus cuidadores sobre a importância de seguir as instruções médicas corretamente e de estar atento a potenciais reações adversas. Ensinar os idosos a organizar os seus medicamentos de forma eficaz, como o uso de caixas de medicação semanais, pode reduzir significativamente os erros de medicação.
4. Monitorização de Interações Medicamentosas
Os farmacêuticos desempenham um papel crucial na identificação de potenciais interações medicamentosas. Ao ter uma lista completa de todos os medicamentos que o idoso toma, tanto prescritos como de venda livre, o farmacêutico pode ajudar a identificar e prevenir interações prejudiciais.
A polimedicação em idosos é um fenómeno inevitável para muitos, dado o aumento da longevidade e a prevalência de doenças crónicas. Embora existam riscos associados ao uso de múltiplos medicamentos, estes podem ser mitigados com uma gestão adequada, envolvendo revisões regulares, simplificação de regimes terapêuticos e monitorização rigorosa por parte dos profissionais de saúde. Quando bem gerida, a polimedicação pode proporcionar benefícios significativos, permitindo que os idosos vivam com mais saúde, independência e qualidade de vida.
Tem dúvidas? Ligue, faça um pedido ou envie um e-mail e as Assistentes Sociais da Via Senior irão atendê-lo de forma personalizada, sem compromisso e de forma totalmente gratuita. Não perca mais tempo!