Como falar com uma pessoa que tem Alzheimer? Esta é uma das perguntas mais frequentes feitas por familiares e cuidadores quando se deparam com esta condição tão desafiante. A doença de Alzheimer, ao afectar progressivamente a memória, a linguagem e a capacidade de compreensão, transforma profundamente a forma como a pessoa interage com o mundo. Por isso, saber comunicar de forma eficaz, empática e adaptada torna-se essencial para manter laços afetivos, reduzir frustrações e proporcionar bem-estar.
Neste artigo, vamos abordar estratégias práticas e humanas para melhorar a comunicação com alguém que vive com Alzheimer, respeitando a sua dignidade e acompanhando a evolução da doença com sensibilidade
Compreender a Doença: O Primeiro Passo
Antes de abordarmos as técnicas de comunicação, é essencial compreender o que é o Alzheimer. Esta doença afecta principalmente pessoas com mais de 65 anos, embora existam casos mais precoces. Com o tempo, a memória de curto prazo deteriora-se, seguido por dificuldades cognitivas mais profundas, como problemas na linguagem, orientação e tomada de decisões.
Uma das áreas mais afectadas é a capacidade de comunicação. O doente pode esquecer palavras, repetir frases, perder o fio à meada da conversa ou até ter dificuldade em compreender o que lhe é dito. Perante este cenário, a abordagem à comunicação deve ser sensível, adaptada e sem julgamento.
1. Crie um Ambiente Tranquilo
O ambiente em que a conversa ocorre é crucial. Ruídos de fundo, muitas pessoas a falar ao mesmo tempo ou luzes fortes podem aumentar a confusão e a ansiedade do doente.
Dicas:
- Escolha um local calmo, sem distrações.
- Fale frente a frente, ao nível dos olhos.
- Use uma voz suave e tranquila.
- Reduza os estímulos auditivos e visuais durante a conversa.
2. Capte a Atenção da Pessoa
Chamar a atenção da pessoa antes de iniciar uma conversa é fundamental para que ela esteja focada.
Como fazer:
- Chame pelo nome.
- Toque suavemente no braço ou na mão (caso a pessoa aceite o toque).
- Olhe nos olhos e sorria de forma acolhedora.
- Identifique-se, se necessário: “Olá, sou a Ana, a tua neta.”
- Estes gestos ajudam a estabelecer uma conexão imediata e reforçam a confiança.

3. Use Linguagem Clara e Simples
As frases complexas podem ser difíceis de compreender. A melhor forma de comunicar é através de frases curtas, diretas e com vocabulário simples.
Exemplo:
Em vez de dizer: “Vamos tomar o pequeno-almoço e depois podemos ir dar uma volta no jardim, se estiver bom tempo”, diga:
“Vamos tomar o pequeno-almoço agora. Depois podemos ir ao jardim.”
Evite perguntas abertas ou ambíguas como “O que queres fazer hoje?”. Prefira sugestões com escolhas limitadas:
“Preferes chá ou café?”
4. Seja Paciente e Dê Tempo para Responder
É importante dar tempo à pessoa para processar o que foi dito. A pressa ou a insistência podem provocar frustração.
Lembre-se:
- Espere alguns segundos antes de repetir a pergunta.
- Não interrompa se a pessoa estiver a tentar responder.
- Evite corrigir de forma brusca se ela disser algo errado.
O objetivo é manter a dignidade da pessoa, mesmo que a resposta não faça sentido total.
5. Use Recursos Não Verbais
Quando as palavras falham, a linguagem corporal pode ser uma poderosa aliada. O sorriso, o tom de voz, o toque e os gestos contribuem muito para a compreensão e conforto emocional.
Sugestões:
- Aponte ou mostre objetos quando falar sobre eles.
- Use expressões faciais que transmitam empatia.
- Sente-se próximo, mas respeite o espaço pessoal.
O tom de voz amável e uma postura relaxada transmitem segurança e afecto, mesmo que as palavras não sejam totalmente compreendidas.
6. Reforce com Repetição, sem Insistência
Às vezes, será necessário repetir uma frase ou pergunta. Faça-o com naturalidade e sem mostrar impaciência.
Se a pessoa não compreender à primeira, tente reformular. Por exemplo:
Se “Vamos vestir o casaco” não resulta, pode tentar: “Está frio lá fora. Vamos pôr o casaco?”
A repetição ajuda a reforçar a informação, mas deve ser feita com tacto para evitar que a pessoa se sinta diminuída.

7. Valide os Sentimentos, Mesmo que a Realidade Seja Distinta
Um dos erros mais comuns na comunicação com pessoas com Alzheimer é corrigir constantemente as suas ideias ou memórias erradas. Para quem tem Alzheimer, a linha entre realidade e imaginação pode tornar-se ténue. Entrar em confronto directo muitas vezes só aumenta a confusão e a ansiedade.
Exemplo:
Se a pessoa disser “Tenho de ir buscar os meus filhos à escola” (sabendo que os filhos são adultos), evite dizer:
“Isso não faz sentido, os teus filhos já são adultos!”
Em vez disso, diga algo como:
“Estás preocupada com os teus filhos. Eles estão bem e sabem que estás aqui.”
Valide os sentimentos — que são reais — em vez de contrariar os factos — que para a pessoa podem já não fazer sentido.
8. Recorra à Memória Emocional e Sensorial
Embora a memória factual seja fortemente afetada, a memória emocional e sensorial pode permanecer ativa durante muito tempo. Músicas, cheiros, fotos ou objetos antigos podem despertar boas lembranças e facilitar a comunicação.
Sugestões:
- Mostre álbuns de fotografias e fale sobre as imagens.
- Toque músicas que a pessoa gostava.
- Fale de lugares e experiências marcantes (ex: a praia onde passavam férias).
Estas experiências podem não só melhorar a comunicação, mas também promover momentos de alegria e conexão emocional.
9. Aceite o Ritmo da Pessoa
Cada dia é diferente. Há dias em que a pessoa poderá comunicar melhor, outros em que isso será mais difícil. Respeite esse ritmo e evite forçar a interação.
Não leve a peito:
- Se a pessoa se irritar sem razão aparente.
- Se o reconhecer num dia e no outro não.
- Se não responder ou parecer “alheada”.
Estas variações são próprias da evolução da doença. O mais importante é manter a presença e transmitir amor, mesmo que as palavras não sejam compreendidas.
10. Cuide de Si Também
Falar com uma pessoa com Alzheimer pode ser emocionalmente desgastante. É essencial que os cuidadores tenham apoio, façam pausas e cuidem da própria saúde física e mental.
Procure:
- Grupos de apoio.
- Informação sobre a doença.
- Momentos de descanso regulares.
- Acompanhamento psicológico, se necessário.
A comunicação só será realmente eficaz se quem cuida também estiver bem.
Falar com uma pessoa que tem Alzheimer é, antes de tudo, um cato de empatia e humanidade. Não se trata apenas de trocar palavras, mas de estabelecer uma ligação emocional, mesmo quando a doença avança e a linguagem verbal se deteriora. A chave está na simplicidade, na paciência e na valorização da pessoa para além da doença.
Ao adaptar a nossa forma de comunicar, estamos a dizer — sem palavras — “Tu ainda és importante. Continuas aqui. Eu estou contigo.”
Comunicar com amor é, muitas vezes, mais eficaz do que qualquer frase bem construída. E mesmo quando as palavras se vão, o afeto permanece.
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