A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crónica, autoimune, que afeta sobretudo as articulações. Embora possa surgir em qualquer idade, a sua incidência entre os idosos tem vindo a aumentar com o envelhecimento da população. Esta condição pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas mais velhas, comprometendo a sua mobilidade, independência e bem-estar geral.
Neste artigo, iremos abordar em profundidade as causas, os sintomas e as opções de tratamento da artrite reumatoide em idosos, com especial enfoque nos desafios específicos que esta faixa etária enfrenta.
O que é a Artrite Reumatoide?
A artrite reumatoide é uma doença autoimune sistémica, o que significa que o próprio sistema imunitário do corpo ataca os tecidos saudáveis, principalmente as articulações. Ocorre uma inflamação persistente da membrana sinovial (tecido que reveste as articulações), o que pode levar à destruição da cartilagem, erosão óssea e deformidade das articulações.
Embora a AR seja frequentemente diagnosticada entre os 30 e os 50 anos, também pode surgir tardiamente, sendo então classificada como artrite reumatoide de início tardio (ARIT), quando os primeiros sintomas ocorrem após os 60 anos.
Causas e Fatores de Risco
A causa exata da artrite reumatoide ainda não é completamente compreendida. No entanto, sabe-se que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e hormonais contribui para o desenvolvimento da doença.
Fatores Genéticos
Alguns genes específicos, como o HLA-DR4 e HLA-DR1, estão associados a um risco mais elevado de desenvolver AR. No entanto, a presença desses genes não garante o desenvolvimento da doença, mas sim uma maior predisposição.
Fatores Ambientais
- Tabagismo: É um dos principais fatores de risco modificáveis. Está claramente associado ao início e agravamento da AR.
- Infeções: Certos agentes infecciosos podem desencadear respostas imunes anormais.
- Exposição ocupacional: O contacto prolongado com sílica, amianto e outros agentes químicos pode aumentar o risco.
Envelhecimento e Sistema Imunitário
Nos idosos, o sistema imunitário sofre alterações naturais, fenómeno conhecido como imunossenescência. Esta mudança pode predispor a respostas autoimunes, explicando em parte a maior incidência de AR no envelhecimento.

Sintomas da Artrite Reumatoide em Idosos
Os sintomas da AR em idosos podem ser semelhantes aos observados em pessoas mais jovens, mas com algumas particularidades que podem dificultar o diagnóstico.
Sintomas Comuns
- Dor articular persistente: Sobretudo nas articulações pequenas das mãos, punhos, tornozelos e pés.
- Rigidez matinal: Sensação de rigidez nas articulações que dura mais de 30 minutos após acordar.
- Edema (inchaço): Nas articulações afetadas, com calor e vermelhidão.
- Fadiga: Cansaço intenso e generalizado.
- Perda de peso inexplicada e febrícula ocasional.
Sintomas Específicos nos Idosos
- Início mais abrupto: Em comparação com os adultos mais jovens, o aparecimento da doença em idosos pode ser mais súbito.
- Maior envolvimento de grandes articulações, como ombros e joelhos.
- Menor presença de fator reumatoide no sangue, o que pode tornar o diagnóstico mais difícil.
- Confusão com outras doenças: Como osteoartrite, polimialgia reumática, gota, ou fibromialgia, tornando o diagnóstico clínico mais desafiante.
Diagnóstico
O diagnóstico da artrite reumatoide baseia-se numa combinação de:
- História clínica detalhada
- Exame físico
- Análises laboratoriais: Fator reumatoide (FR), anticorpos anti-CCP, velocidade de sedimentação (VHS) e proteína C-reativa (PCR).
- Exames de imagem: Radiografias, ecografias ou ressonância magnética das articulações, para identificar erosões e inflamação.
Nos idosos, é fundamental excluir outras patologias que possam mimetizar a AR, como infeções articulares ou outras doenças autoimunes.
Tratamento da Artrite Reumatoide em Idosos
O tratamento da artrite reumatoide tem como objetivos:
- Reduzir a inflamação
- Aliviar a dor
- Prevenir a destruição articular
- Manter a função e qualidade de vida
O plano terapêutico deve ser adaptado às necessidades e comorbilidades do idoso.
1. Medicamentos
a) Fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)
- Usados para alívio da dor e inflamação.
- Nos idosos, devem ser usados com precaução devido ao risco aumentado de hemorragia gastrointestinal, insuficiência renal e hipertensão.
b) Corticosteroides
- Podem ser eficazes no controlo rápido da inflamação.
- No entanto, o uso prolongado está associado a efeitos adversos importantes: osteoporose, diabetes, hipertensão, e fragilidade cutânea.
c) Fármacos modificadores da doença (DMARDs)
- Metotrexato é o mais utilizado e eficaz.
- Outros incluem leflunomida, sulfassalazina e hidroxicloroquina.
- Devem ser iniciados precocemente, mas monitorizados cuidadosamente devido à função hepática e renal, frequentemente comprometida nos idosos.
d) Terapêuticas biológicas
- Fármacos como os anti-TNF (ex.: adalimumab, etanercept) ou inibidores de interleucinas podem ser considerados em casos refratários.
- São eficazes, mas o risco de infeções é aumentado, especialmente em pessoas mais velhas.

2. Fisioterapia e Reabilitação
- Exercícios de mobilidade e fortalecimento ajudam a manter a função articular e a prevenir a atrofia muscular.
- Terapia ocupacional pode ensinar estratégias para realizar tarefas do dia-a-dia de forma mais segura e eficiente.
- Auxiliares de mobilidade (como bengalas ou ortóteses) podem ser recomendados.
3. Suporte Nutricional
- Uma dieta equilibrada, rica em ómega-3, frutas e vegetais, pode ajudar a reduzir a inflamação.
- Suplementação de vitamina D e cálcio é frequentemente necessária para prevenir ou tratar osteoporose.
4. Apoio Psicológico e Social
- A dor crónica e a perda de independência podem levar à depressão e isolamento social.
- O apoio de psicólogos, familiares e grupos de suporte é essencial.
Desafios Específicos no Idoso
O tratamento da AR em idosos deve ser feito com especial atenção às comorbilidades (doenças concomitantes), fragilidade, polimedicação e alterações na farmacocinética dos medicamentos.
Além disso, é importante garantir uma abordagem multidisciplinar, envolvendo reumatologistas, médicos de família, fisioterapeutas, nutricionistas e cuidadores.
Prognóstico
Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, muitos idosos com AR conseguem manter uma boa qualidade de vida. No entanto, a progressão da doença e o impacto funcional tendem a ser mais significativos nesta população, especialmente se houver atraso no início da terapêutica.
A adesão ao tratamento, a monitorização regular e o suporte familiar são fatores fundamentais para melhorar o prognóstico.
A artrite reumatoide em idosos é uma doença complexa e desafiante, mas que pode ser eficazmente gerida com uma abordagem individualizada. O reconhecimento precoce dos sintomas, a escolha adequada dos medicamentos e a inclusão de estratégias não farmacológicas são fundamentais para preservar a funcionalidade e a qualidade de vida.
O envelhecimento não deve ser visto como um obstáculo ao tratamento da AR, mas sim como um motivo adicional para uma atenção médica mais cuidada e humanizada.
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