Nada Sobre Eles Sem Eles: Envolvendo os Idosos nas Decisões de Final de Vida

Nada Sobre Eles Sem Eles Envolvendo os Idosos nas Decisões de Final de Vida

A fase final da vida é um período delicado que, inevitavelmente, traz desafios emocionais e práticos tanto para os idosos quanto para as suas famílias. Entre as questões que surgem estão os cuidados paliativos, a organização financeira, as vontades expressas em testamentos vitais e os detalhes logísticos associados à saúde e à moradia. Em Portugal, a discussão em torno destas questões tem vindo a ganhar relevância, especialmente com o aumento da população idosa. Contudo, é essencial que estas decisões sejam tomadas de forma inclusiva, colocando os idosos no centro do processo decisório. Afinal, como sugere o princípio “Nada Sobre Eles Sem Eles”, o respeito pela autonomia e pela dignidade humana deve prevalecer.

A Importância da Autonomia no Final da Vida
A autonomia é um dos valores fundamentais nos direitos humanos e assume um papel crucial no contexto do envelhecimento. Envolver os idosos nas decisões de final de vida significa reconhecer a sua capacidade de escolha e respeitar os seus desejos, mesmo em situações de fragilidade. Muitas vezes, as famílias tomam decisões bem-intencionadas, mas acabam por ignorar as preferências do idoso, tratando-o como um espectador passivo.

Em vez disso, é essencial criar um diálogo aberto e transparente. Perguntas como “O que é importante para ti nesta fase?” ou “Como gostarias que cuidássemos de ti?” podem abrir caminho para uma conversa mais significativa. Esta abordagem não só reforça a sensação de controlo e dignidade do idoso, mas também ajuda a família a evitar conflitos futuros e a tomar decisões mais alinhadas com os desejos da pessoa.

Nada Sobre Eles Sem Eles Envolvendo os Idosos nas Decisões de Final de Vida

Testamento Vital: Um Instrumento de Planeamento e Respeito
Em Portugal, a Lei n.º 25/2012 regula o testamento vital, um documento onde qualquer cidadão pode expressar as suas vontades relativas a tratamentos médicos em situações de incapacidade de expressar a sua vontade. Este documento permite ao idoso decidir sobre questões como o recurso a tratamentos invasivos, a reanimação ou a recusa de determinados cuidados médicos.

Infelizmente, muitos idosos e famílias desconhecem a existência ou a importância deste instrumento. Promover informação sobre o testamento vital é essencial para garantir que as decisões respeitam a vontade da pessoa. Ao preencher este documento, o idoso pode assegurar que os seus desejos serão cumpridos, mesmo em circunstâncias em que não consiga expressá-los verbalmente.

Uma conversa em família sobre este tema pode ser sensível, mas é uma oportunidade para compreender melhor os valores e preferências do idoso. Esta discussão deve ser conduzida com empatia e respeito, evitando pressões ou julgamentos.

Cuidados Paliativos: Garantir Qualidade de Vida
Outro aspecto importante das decisões de final de vida envolve os cuidados paliativos, que têm como objectivo proporcionar conforto e qualidade de vida, em vez de curar uma doença. Portugal tem vindo a expandir o acesso a cuidados paliativos, mas há ainda desafios significativos na sua implementação, sobretudo em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Ao envolver o idoso na planificação destes cuidados, é possível garantir que as suas prioridades sejam respeitadas. Alguns podem preferir permanecer em casa, rodeados de família, enquanto outros podem sentir-se mais seguros num ambiente hospitalar. O importante é que a escolha reflicta o que é mais significativo para a pessoa.

Desafios na Participação do Idoso nas Decisões
Apesar das boas intenções, várias barreiras podem dificultar a participação activa dos idosos nas decisões sobre o final da vida:

Estigmatização da Fragilidade: Muitos encaram os idosos como incapazes de tomar decisões racionais, especialmente se sofrem de doenças como demência. No entanto, mesmo em casos de declínio cognitivo, pode ser possível envolver o idoso em algumas escolhas.

Resistência Familiar: Em alguns casos, as famílias evitam abordar o tema por medo de causar sofrimento emocional ou por preconceito em relação à morte.

Falta de Conhecimento: Muitas pessoas desconhecem os seus direitos ou os recursos disponíveis, como o testamento vital ou o acesso a cuidados paliativos.

Comunicação Ineficaz: Profissionais de saúde e familiares podem ter dificuldade em comunicar de forma clara e empática sobre estas questões.

Envolvendo os Idosos nas Decisões de Final de Vida

Estratégias para Envolver os Idosos nas Decisões
Para ultrapassar estes desafios, é fundamental adoptar estratégias que incentivem um diálogo aberto e inclusivo:

Criar Espaços Seguros de Conversa: Escolher momentos apropriados para discutir estas questões, longe de tensões ou distracções. O Natal ou outras reuniões familiares podem ser ocasiões propícias, desde que o assunto seja abordado com delicadeza.

Formar Profissionais de Saúde: Médicos, enfermeiros e outros profissionais devem ser treinados para facilitar conversas sobre o final da vida, explicando opções e recursos de forma clara e empática.

Educar Famílias e Idosos: Promover sessões informativas sobre direitos e opções de cuidado pode ajudar a desmistificar o tema e a incentivar uma participação mais activa.

Utilizar Ferramentas de Planeamento: Incentivar o uso de testamentos vitais e procurações para a saúde, garantindo que os desejos dos idosos sejam respeitados mesmo em situações imprevistas.

O Impacto Positivo de um Diálogo Inclusivo
Quando os idosos são envolvidos ativamente nas decisões sobre o final das suas vidas, os benefícios são significativos. Não só se sentem mais respeitados e valorizados, como também podem viver os seus últimos anos com maior tranquilidade e satisfação. Para as famílias, este processo também traz maior serenidade, pois as decisões tomadas são mais alinhadas com os desejos do ente querido.

Por outro lado, também contribui para uma mudança cultural mais ampla. Ao quebrar os tabus em torno da morte e ao promover um envelhecimento mais activo e participativo, a sociedade portuguesa pode tornar-se mais inclusiva e solidária para com a sua população idosa.

“Nada Sobre Eles Sem Eles” é um princípio que deve guiar todas as decisões relativas ao final de vida dos idosos. Respeitar a autonomia, promover o diálogo e garantir que as preferências dos idosos sejam ouvidas e implementadas são gestos de humanidade e dignidade. Num país em envelhecimento como Portugal, este tema é mais relevante do que nunca. Fazer destas conversas uma prioridade não é apenas uma questão de cuidado, mas também de respeito pelos que nos precederam e pelo legado que deixam.

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